quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

New Year


Mais um de Carlos Drummond de Andrade...


Receita de Ano Novo:

Para você ganhar belíssimo Ano Novocor de arco-íris, ou da cor da sua paz, Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido(mal vivido ou talvez sem sentido)para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,mas novo nas sementinhas do vir-a-ser, novo até no coração das coisas menos percebidas(a começar pelo seu interior)novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha,você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens(planta recebe mensagens?passa telegramas?).


Não precisa fazer lista de boas intençõespara arquivá-las na gaveta.

Não precisa chorar de arrependidopelas besteiras consumadasnem parvamente acreditarque por decreto da esperança a partir de janeiro as coisas mudeme seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começandopelo direito augusto de viver.


Para ganhar um ano-novoque mereça este nome,você, meu caro, tem de merecê-lo,

tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente.

É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

Texto extraído do "Jornal do Brasil", Dezembro/1997.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Carpe diem




VIVER NÃO DÓI


Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.


Por que sofremos tanto por amor?

O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.

Sofremos por quê?

Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.(Carlos Drummond de Andrade)


So, let's go...